segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Professor voluntário e homem são mortos a tiros e três ficam feridos em campo de futebol, no Recife


Dois homens morreram e três ficaram feridos após serem baleados dentro de um campo de futebol, no bairro da Mustardinha, na Zona Oeste do Recife, de acordo com a Polícia Civil. Uma das vítimas era um engenheiro, que era professor voluntário num curso pré-vestibular para estudantes de comunidades pobres.

O caso ocorreu no Campo dos Caducos, durante uma partida de futebol amador, na noite do sábado (13), e foi confirmado nesta segunda-feira (15) pela Polícia Civil.

Os mortos foram o engenheiro Diogo Matteus Tavares da Silva, de 32 anos, que teria sido atingido por uma bala perdida, e um homem identificado como Hugo Henrique Lopes da Silva, de 26 anos, que seria o alvo do atentado.

Também ficaram feridos Renato Ferreira Martins, Diego Oliveira de Melo e Diego Costa Ferreira, de idades não informadas. De acordo com testemunhas, eles assistiam a um jogo de futebol quando o crime aconteceu, e teriam sido alvo de balas perdidas.

O engenheiro civil Daniel Souza era um dos melhores amigos de Diogo Matteus. Ele contou que a vítima morava numa rua próxima ao campo, e que o crime tem características de execução, mas que o alvo seria somente Hugo Henrique Lopes da Silva. Diogo deixou a esposa e uma filha pequena, que mora no Piauí.

"Eu soube que um homem chegou de agasalho, boné e calça e atirou. Diogo estava próximo de Hugo, que era o alvo. Ele foi atingido por pelo menos dois tiros. Botaram ele e algumas das vítimas no carro e levaram para a [Unidade de Pronto Atendimento] dos Torrões, mas acho que ele já chegou morto. Quando cheguei na unidade, pouco tempo depois dos tiros, já soube que ele tinha morrido", afirmou.

Não há informações sobre o estado de saúde dos três homens feridos. O g1 não conseguiu localizar parentes deles e do outro homem que morreu.

A Polícia Civil informou que elas foram levadas por moradores da região para "distintas unidades hospitalares locais".

História


Diogo Matteus era bastante conhecido na região, especialmente no bairro da Mangueira, onde foi criado. Ele cursou ensino médio na Escola Estadual Débora Feijó. Depois disso, passou em Eletrotécnica no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) e cursou, posteriormente, graduação em engenharia elétrica.

"Ele era o melhor ser humano que já conheci. Extremamente extrovertido. Ele dizia que a favela venceu, porque era um cara que veio de baixo. Montou a própria empresa e sempre fez o bem. Dava aula de matemática num cursinho pré-vestibular no Coque. Era um cara incrível", afirmou Daniel Souza.

O curso em que Diogo dava aula era o Pré Resiste Preparatório, no Coque, um dos bairros mais pobres do Recife. No Instagram, o curso lamentou a morte do voluntário.

"Nego, 'tu se encantou'. Mas tua luz resistirá conosco até em dias como hoje, onde a escuridão invade nosso peito e nos atravessa sem dó. Não nos perderemos. Tu vives em nós para sempre. Diogo: presente", disse.

Diogo também era músico, e, nas horas vagas, tocava guitarra na banda Palafita, que faz música com críticas sociais e à desigualdade. O grupo também manifestou pesar pela morte do engenheiro.

"Teve sua vida ceifada pela violência cotidiana. Fica seu legado de companheirismo e luta destes 15 anos de Palafita. Estamos todos em choque pelo acontecido. Dioguinho foi a prova de que é possível mudar a periferia, através da arte, educação e consciência de classe. Sempre colocou a raça e classe como condição fundamental para uma sociedade mais justa. Jamais esqueceremos do que aprendemos com ele em todos esses anos, de sua sagacidade e sabedoria. Perdemos um dos melhores seres humanos que poderia se forjar numa sociedade tão perversa. Perdemos um engenheiro, professor, educador, guitarrista, amigo, pai. No entanto, jamais perderemos sua humanidade, essa para sempre viverá dentro de nós. Te amaremos até o fim. Diogo, para sempre, presente", publicou.

Fonte: G1-PE

Nenhum comentário:

Postar um comentário