terça-feira, 8 de maio de 2018

Conheça a história de Vassoura: De menino de rua a morador de Dubai



Topete maneiro. Roupa de marca. Residência fixa em Dubai, nos Emirados Árabes. Carreira consolidada no futsal. Dois filhos e uma esposa apaixonada. Não há dúvidas de que Vassoura é um vencedor. O que pouca gente sabe é que essa vitória foi de virada.

O jogador, de 33 anos, morou durante quase uma década nas ruas de Jaboatão dos Guararapes. A cama era sempre um banco. De praça, de feira, ou dos ônibus que ele dava um jeito de entrar assim que saiam da garagem, ainda de madrugada.


- Eu pegava um ônibus por aqui às 4h30 da madrugada e morrendo de sono porque ficava com medo de dormir muito exposto, subia no ônibus e ficava na parte de trás e dormia até 8h, 9 horas. O ônibus ia para Recife e voltava e eu tava lá atrás dormindo e quando dava 9h descia do ônibus e seguia novamente mais um dia da minha vida.

A rotina era vender picolé e fazer fretes numa carroça. Vassoura foi um menino de rua diferente.

- Eu ficava separado dos demais , até por saber que eles faziam coisas erradas. Pegava o dinheiro do meu trabalho, comprava uma roupa, sandalinha, nunca andava descalço.


Aprender a se virar foi uma situação provocada pelo abandono.

- Tenho um pai, mas nunca vi meu pai na minha vida. Tenho uma mãe que só conviveu quatro anos comigo e até hoje não consigo entender como um pai ou uma mãe pode deixar um filho no meio da rua até porque tenho dois filhos e tenho um amor enorme por eles. Tenho medo até de uma formiga morder, então é inadmissível um pai ou uma mãe não poder cuidar do seu filho.

O pouco tempo de convivência com a mãe também traz lembranças dolorosas.

- Ela me levou para São Paulo e dos quatro até os nove eu fiquei lá, onde eu sofri bastante. Ela me largava no meio da rua. Quebrei minhas duas pernas em São Paulo, com atravessando a rua sozinho. Quebrei a esquerda num momento e, no outro, a direita . Mas deixaram minhas pernas meio que tortas , acho que foi até melhor pra driblar.

O caminho torto só tomou prumo aos dezessete anos, quando Vassoura passou num teste no futsal do Santa Cruz. Se destacou e foi para o Paraná. Daí rodou o mundo. Rússia, Espanha, Ucrânia, Azerbaijão, Geórgia, Croácia, Cazaquistão... Sempre entre idas e vindas do Brasil e do futsal. É que o jogador apostou muito no futebol também. Em campo, foram 10 clubes na carreira. O último, o Mogi Mirim. Em Pernambuco a passagem mais marcante foi no Central de Caruaru, em 2011. Em 2015 viveu o que ele chama de maior frustração da carreira. Era um período de testes no Náutico. A torcida não curtiu a principio, mas com o passar dos treinos, Vassoura foi indo bem e as críticas cessaram. Mesmo assim foi dispensado sem assinar contrato.

- Era um time que eu gostava bastante. Tava com muito entusiasmo. Foi num clube que de verdade fechou as portas pra mim.


Portas abertas para realizar um sonho um ano depois. Vassoura, que já havia recebido o convite, topou se naturalizar pelo Azerbaijão, onde já havia jogado. Com isso, defendeu a seleção na Copa do Mundo de Futsal, na Colômbia. O Azerbaijão caiu nas quartas-de-final, eliminado por Portugal. Mas o pernambucano conseguiu se destacar. Na artilharia, só não fez mais gols que Éder Lima da Rússia, Falcão do Brasil e Ricardinho de Portugal, atual número 1 do mundo.

Nada mau para quem até pouco tempo só era aplaudido nos ginásios do interior de Pernambuco, nos campeonatos amadores. Por mais que atualmente soe estranho ouvir um narrador gritar seu nome em árabe, o que mais está gravado na mente é outra pronuncia:

- Tem gente que fala: hoje ele vai barrer, então Bassoura vem para barrer. Em Caruaru e outros lugares que eu ia jogar no Nordeste, o pessoal falava bastante, tira uma foto comigo Bassooura , de inicio tu dá uma risadinha, mas depois você entende a dificuldade que passam de irem para escola e tal. Mas é bem bacana e eu gostava bastante.


O que desacostumou o rapaz foi a disparidade entre a qualidade de vida em Dubai e a daqui. Está rolando uma pausa na temporada por lá, e Vassoura veio passar férias no Brasil. Em menos de uma semana no estado natal, foi assaltado próximo à avenida Agamenon Magalhães, uma das principais do Recife.

- Infelizmente levaram tudo e felizmente deixaram nossa vida que é o mais importante. Nada melhor que recomeçar e, claro, com saúde.


Transformar um problema em algo positivo nunca foi novidade. Um corte de cabelo mal feito, rendeu o apelido que combinou perfeitamente com o futsal. Um não nos gramados foi o bilhete de entrada para uma Copa do Mundo. E uma infância ao relento transformou o cidadão em fortaleza.

Fonte: Globo Esporte/PE
Fotos: Reprodução Globo Esporte

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